Dia 26 de agosto
"Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes esta visão: eu vi um anjo perto de mim,
ao lado esquerdo, em forma corporal (imaginária), o que só acontece raramente. Muitas vezes
me aparecem anjos, mas só os vejo na visão passada de que falei (visão intelectual). O Senhor
quis que eu o visse assim: não era grande, mas pequeno, e muito formoso, com um rosto tão
resplandecente que parecia um dos anjos muito elevados que se abrasam. Deve ser dos que
chamam querubins, já que não me dizem os nomes, mas bem vejo que no céu há tanta
diferença entre os anjos que eu não saberia distinguir.
Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que
havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo
algumas vezes, atingindo-me as estranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram
retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. A dor era tão grande
que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a
alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus. Não
se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito. É
um contato tão suave entre alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência
a quem pensa que minto..."
(Livro da Vida, 29, 13)